
Religião vem do latim
religare, que significa religar. Religar-se, portanto, com o Divino, o nosso senso ou conceito da Criação.
Então, quando se pergunta a uma pessoa “qual a sua religião?”, se está perguntando, ainda que indiretamente, “qual a sua forma de
religare?”, pois existem várias. As religiões são o intermédio entre nós e Deus (ou como se queira chamá-lo) e as práticas religiosas são formas de entramos em contato com nosso
eu interior, buscando descobrir o nosso
eu divino – aquela centelha de divindade que existe dentro de cada um.
A maioria das religiões, ou seja, das formas de
religare, “prega” o amor, e a busca da maior parte das pessoas é a mesma: a felicidade. No final das contas, somos todos muito parecidos, buscando destinos muito parecidos, apenas trilhando caminhos distintos.
É trágico, porém, entrar em contato com duas infelizes características da humanidade no que concerne aos assuntos religiosos: ignorância e intolerância. A falta de conhecimento sobre aquilo que é diferente gera dentro das pessoas um sentimento preconceituoso diante do novo que é apresentado. No âmbito religioso não é diferente. Algumas pessoas fazem uso dos estereótipos¹ religiosos que permeiam a mente social nas mais variadas camadas (quem nunca ouviu que “todo crente é radical”, “todo umbandista é macumbeiro”, “todo católico é hipócrita”, “espíritas são perigosos”, “muçulmanos são fundamentalistas suicidas”, “judeus são interesseiros”, ou até mesmo “todo ateu é arrogante” e assim seguindo?); outras se baseiam nas doutrinas muitas vezes preconceituosas das suas próprias igrejas e acabam, paradoxalmente, “pecando” (julgando, faltando com o amor para com o próximo, desonrando seus próprios valores).
Faz-se acreditar, portanto, que o mundo poderia ser mais feliz se fôssemos mais ecumênicos. Em idas e vindas de observação do comportamento religioso humano, é perfeitamente possível encontrar mulheres muçulmanas que se sentem livres dentro de suas burcas, católicos ativos e dedicados, evangélicos completamente tolerantes e maravilhosos círculos de candomblé.
Conhecer é preciso. Experimentar também, se possível. Não podemos compreender a dimensão da religiosidade do próximo se não a vivenciarmos junto com ele. Precisamos entender que outras pessoas comungam uma mesma energia, mas de modo diferente do nosso. E que esta maneira não é “a certa”, tampouco “a errada”, apenas “diferente”.
Contudo, para passar por essas experiências, precisamos nos certificar daquilo que existe dentro de nós e combater toda a insegurança e o preconceito oriundos da ignorância. É preciso abrir o coração e a mente, assim como fizeram os grandes mestres da humanidade. É preciso calar, ouvir e aprender mais. Evoluir, como sugerem os espiritualistas. As guerras santas, a Inquisição e tantas outras perseguições que sujaram e sujam a história humana nasceram no berço da intolerância. E esta, por sua vez, no berço da escassez de conhecimento.
“Se queres ser universal, olha a tua aldeia”². Observando os nossos erros antes de apontar os dos outros, fazemos um exercício de consciência e autocrítica. Poderemos, então, talvez perceber que muitas vezes somos preconceituosos antes de pré-conceituados. Intolerantes antes de intolerados. E como toda ação tem uma reação, precisamos tomar cuidado para que não se dê continuidade ao ciclo vicioso da estupidez.
Torna-se possível concluir que o mundo estaria melhor se todos se convertessem ao conhecimento mais sagrado, à atitude mais evoluída, à opção mais segura, à melhor religião de todas: o respeito.
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¹ Estereótipo é a imagem preconcebida de determinada pessoa, coisa ou situação; uma forma de representar um grupo ou povo de forma generalizada (como se todos fossem iguais). WIKIPÉDIA, a Enciclopédia Livre. Disponível em http://www.pt.wikipedia.org² Citação encontrada no site Universo de Luz. Disponível em http://www.universodeluz.netImagem de GettyImages. Disponível em http://www.gettyimages.com