quinta-feira, 30 de novembro de 2006

O Paganismo que foi, o Paganismo que é.

OBS: Texto original no site http://sfeminino.multiply.com/journal/item/8
Sendo o Paganismo uma cultura e sua religiosidade, uma manifestação dessa cultura, é preciso estudo e análise para esboçar uma definição a cerca do que seria a “real” prática religiosa pagã nos dias atuais.

Por se caracterizar como uma religiosidade pré-histórica (primitiva) e não possuir registros escritos ou livros doutrinários, o Paganismo e sua perpetuação se deram basicamente através dos conhecimentos transmitidos hereditariamente e, posteriormente, com a união dessas informações com o conhecimento científico histórico e antropológico.


Contudo, é sabido que nenhum conhecimento está impedido de sofrer alterações e influências, principalmente tendo suas origens nos primórdios da humanidade. Como afirmam os autores Joyce & River Higginbotham, o Paganismo hoje é “é um termo ‘guarda-chuva’, que descreve uma multiplicidade de tradições religiosas e espirituais”. Logo, temos hoje o que muitos chamam de “salada mística”, ou seja, uma infinidade de tradições dentro do Paganismo, assim como o surgimento e a possibilidade de desenvolvimento de caminhos pessoais e particulares para pagãos solitários.

No meio dessa “salada” representativa do Paganismo atual, podemos citar as influências do Xamanismo, do Druidismo, das religiosidades africanas, do Espiritualismo, das filosofias orientais, do Universalismo, da Mitologia, da Psicologia, do movimento New Age, dentre vários outros, inclusive o Cristianismo.

Esta variedade de conceitos, práticas e conhecimentos no caldeirão do Paganismo contemporâneo é uma maneira de reconstruir e/ou reformar, reformular práticas ancestrais, preservando-as e adaptando-as à realidade moderna. É uma forma de compreender o velho com caráter do novo e vice-versa, promovendo o equilíbrio sagrado e o cumprimento das leis naturais da vida: existir e transformar-se.

Estamos vivendo um período que representa parte do ciclo e este momento pede liberdade para o Paganismo, de modo a permitir que ele tome a sua forma natural, transformada e, compreensivelmente, diferente.

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HIGGINBOTHAM, Joyce & River. Paganismo: uma introdução da religião centrada na terra. Tradução Ana Carolina Trevisan Camilo. São Paulo: Madras, 2003.
Paganismo. WIKIPÉDIA. Disponível em:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Paganismo

segunda-feira, 6 de novembro de 2006

Química e Conexões

Imagem: GettyImages
Certamente muitos já disseram que um casal para dar certo “tem que ter química”. No dicionário, química é o substantivo feminino que designa a “Ciência que estuda as propriedades das substâncias e as leis que regem as suas combinações e decomposições.” Mas, em seu significado mais “romântico”, química é uma espécie de força magnética quase física que aproxima as pessoas, que atrai ainda que forças intelectuais ou sociais não estejam em plena concordância. É inerente aos seres humanos e neles manifesta curiosidade e encantamento por ser simplesmente incontrolável, inevitável no momento de sua ocorrência. Química está ligada ao instinto humano.

Indubitavelmente muitos também já identificaram um sentimento particular de conexão que despertasse um conhecimento familiar sobre uma determinada pessoa ou lugar. A Professora Gabriela Leite, em sua palestra sobre Filosofia e Eternidade, disse que quando encontramos alguém que partilha da mesma busca que nós, parece que o conhecemos desde sempre. Afinal, os orientais, segundo ela, já diziam que “a eternidade não é um tempo que nunca acaba, mas um tempo que é”.

Essa sensação de conexão é explicada por alguns espiritualistas pela lei do “semelhante que atrai semelhante”. Ao emitir seus pensamentos e desejos, o ser humano estaria como que “sintonizando” um padrão vibracional no Universo. Da mesma forma, essas vibrações também o sintonizariam, provocando uma reação que condiria com o dito popular de que “nós plantamos o que colhemos” e também com o princípio neopagão do Eterno Retorno – “tudo o que vai de nós, volta para nós”.

Independentemente dos meios, as conexões acontecem. No dicionário, conexão é a “ligação de uma coisa com outra” ou ainda “dependência, relação, nexo.” Em seu significado mais “romântico”, conexão é uma espécie de força magnética quase mental que aproxima as pessoas, que atrai ainda que as forças físicas não estejam em plena concordância. Também é inerente aos seres humanos e neles manifesta curiosidade e encantamento por ser simplesmente perceptível inevitável no momento de sua ocorrência. Conexões estão ligadas à intuição humana.

Tanto a “química” quanto as “conexões” são conceitos abstratos que não são abordados com muita freqüência sequer pelas religiões. São conceitos ainda inteiramente conectados aos porões da mente, pois tratam do instinto e da intuição, elementos que foram subjugados durante séculos de um patriarcado parcialmente negligente.

É fato que a ciência se desenvolve enquanto a religião está em baixa. O racionalismo e o materialismo se desenvolveram enquanto o espiritualismo e o idealismo estiveram soterrados. Nesses momentos, o conceito taoísta do Yin/Yang nada oferecia às sociedades ocidentais sedenta por somas e nunca divisões.

Sofremos hoje, portanto, os resultados desse desequilíbrio. E reviver conceitos como a ‘química física’ e as ‘conexões mentais’ é dar vazão a uma gama de sentimentos relacionados ao instinto e a intuição que por séculos foram condenados diante de uma razão exagerada; mas que, ainda assim, são parte de nós e parte do Todo e da mesma forma permaneceram por todo o tempo.

Apesar de serem noções, de certa forma, passivas e latentes, em cada yin existe a centelha yang da manifestação e da atividade. Trazer de volta estas abstrações é como pingar uma gota d’água num oceano de idéias que nos levam às profundezas da alma, mas de onde podemos emergir renascidos e revigorados para trilhar com firmeza o caminho de volta à Grande Mãe.

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LEITE, Gabriela. Filosofia e Eternidade. 2006. Palestra realizada na Nova Acrópole em 04 nov. 2006.
MICHAELIS – UOL. Dicionário de Língua Portuguesa, Inglesa e Espanhola.

quarta-feira, 1 de novembro de 2006

É Primavera nos túmulos...

É Primavera no Brasil. No auge da estação, até a moda anuncia o Verão que se aproxima. Tudo é muito claro e vívido, o clima da cidade já começou a esquentar e o vento traz o equilíbrio necessário para o corpo e para a mente.

E mesmo em meio ao calor primaveril, nesse período se aproxima o feriado Cristão do Dia de Finados, que representa um momento de recolhimento, de resgate às lembranças dos ancestrais que partiram e de reflexão sobre o processo da morte. Acaba então sendo Primavera lá fora e Inverno dentro de nós.

Para os Pagãos do Norte é Samhain, o festival em que o véu entre os mundos é mais tênue, em que se honra o legado daqueles que estiveram antes sobre o corpo da Grande Mãe. Para os Pagãos do Sul é Beltane, o auge da Primavera, o momento onde o Sol realça todo o seu poder e força fertilizadora. A Deusa Terra está enfeitada com o colorido das flores.

Torna-se impossível, portanto, permanecer alheios à dualidade presente nesta época do ano. Mesmo no Hemisfério Sul estamos em contato freqüente com os velhos costumes nortistas arraigados em nossa cultura ocidental. Papai Noel, símbolo do Natal, está envolvido pela idéia do clima gelado, pelas roupas de frio, pela neve. E no “nosso” Natal as roupas são leves, há festejos e danças, há o calor e a alegria de quem está em expansão, como o Sol antes do Verão.

É possível concluir, então, que o nosso planeta vive numa constante dualidade: Oriente/Ocidente; Norte/Sul; morte/vida; frio/calor e assim continuamente. Experimentamos essa realidade fora e dentro de nós durante todo o tempo e é possível perceber a sua interdepedência. O médium James Van Praagh diz que “o exterior é um espelho do interior”. E negar uma polaridade é negar a outra por conseqüência.

A filosofia do Taoísmo aborda esse tema com particularidade. Diz-se que “o conceito chinês de Yin e Yang representa a idéia de que o mundo é um todo e que esse todo é o resultado da união contraditória de dois princípios, o yin e o yang.” Contudo, “cada fenômeno pode pertencer ao Yin ou ao Yang, mas dentro dele há a semente da fase contrária.”

Portanto, esta é a hora de comungar a egrégora do silêncio, enquanto notamos as centelhas de luz chegar de fora para dentro de nós. É momento de celebrar o inverno da morte na esperança do renascer da primavera, percebendo o ciclo imortal da transformação.

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PRAAGH, James Van. Conversando com os Espíritos. Tradução Luiz Antônio Aguiar. Rio de Janeiro: Sextante, 1998.
Yin Yang. Disponível em:
www.escoladafamilia.sp.gov.br/lienchi/yineyang.doc